13 dez Arquitetura feminina: entre tradição e novas perspectivas
No dia 8 de março, a Laminam celebra as mulheres que – graças às suas criações e pensamento de design – fizeram história na arquitetura e no design. Uma abordagem inclusiva à construção, capaz de saltos ambiciosos e grandiosos.
Quando dizemos “história da arquitetura”, quantas arquitetas vêm à sua mente?
Em uma disciplina que – como muitos outros campos das artes – foi marcada por uma clara predominância masculina por séculos, os nomes femininos não são escassos. De estrelas como Zaha Hadid a arquitetas que trabalharam no desenvolvimento urbano, projetando casas particulares, habitações públicas, jardins, espaços públicos, banheiros, escolas, entre outros, as mulheres trazem toda sua expertise e sensibilidade social.
A primeira a deixar sua marca na Itália – durante o século XVII Barroco de Bernini e Borromini – foi Plautilla Bricci. Nascida em uma família artística, Bricci desfrutou de uma independência e autonomia impensáveis para uma mulher de sua época, já que nunca se casou nem fez votos religiosos. Sua obra mais famosa foi a Villa Benedetta fuori Porta San Pancrazio, mais conhecida como il Vascello. Durante sua construção, Bricci coordenou colegas como os já mencionados Bernini, além de Cortona e Grimaldi. Uma mulher no comando? Para o mestre de obras, isso foi um escândalo, tanto que ele ameaçou deixar o projeto. Foi necessária a intervenção de um abade, assistido por um tabelião, para redigir um documento obrigando todos os trabalhadores a obedecer às diretrizes de Plautilla Bricci. Ela foi chamada – para o espanto de todos – de “l’architettrice”, a forma feminina italiana de “architetto” (arquiteto).
“L’architettrice” também foi o título de sua biografia ficcional, escrita por Melania Mazzucco. Ouvindo esse termo hoje, soa estranho aos ouvidos italianos, mas na época foi como uma pequena revolução. Ele foi cunhado especificamente para Plautilla Bricci (que inicialmente era pintora), pois até então não existia um termo feminino para definir uma arquiteta.
As dificuldades enfrentadas pelas mulheres no mundo da arquitetura frequentemente derivam de estereótipos anacrônicos, mas persistentes. Por exemplo, Gae Aulenti – outro nome essencial na história da arquitetura do século XX – costumava dizer: L’architettura è un mestiere da uomini ma io ho sempre fatto finta di nulla. (A arquitetura é um trabalho de homens, mas eu sempre fingi não perceber).”
Aulenti trabalhou com arquitetura de interiores, mobiliário, design de espaços expositivos, showrooms e palcos. Destaca-se sua longa e produtiva colaboração com a Olivetti. Peças icônicas levam sua assinatura, como a luminária Pipistrello, projetada para os showrooms da Olivetti em Paris e Buenos Aires, e posteriormente produzida em série pela Martinelli Luce. Hoje, a luminária pode ser admirada no MoMA em Nova York, como parte das coleções permanentes.
Uma das figuras mais revolucionárias da arquitetura do século XX foi, sem dúvida, Lina Bo Bardi. Formada em Roma, com uma tese sobre edifícios para mães solteiras, Lina teve uma carreira marcante. Após um período em Milão, onde colaborou com o estúdio de Gio Ponti e assumiu a vice-direção da revista Domus, em 1946 mudou-se para o Brasil com seu marido, Pietro Maria Bardi, diretor do Museu de Arte de São Paulo (MASP).
No entanto, Lina estava longe de ser apenas “a esposa de”: graças a edifícios como a Casa de Vidro – hoje sede da fundação dedicada a ela –, o MASP (ainda o museu mais importante da América Latina) e o Museu de Arte Popular da Bahia, a contribuição de Bo Bardi para o desenvolvimento da arquitetura brasileira foi fundamental.
“Para um arquiteto, o mais importante não é construir bem, mas entender como a maioria das pessoas vive. O arquiteto é um mestre da vida, no sentido modesto de dominar como se cozinha feijão, como se faz um fogão, de ser obrigado a compreender como funciona o banheiro e como projetar um banheiro.”
— Lina Bo Bardi
Arquitetas, designers e… ‘starchitects’
Aqui, os pensamentos se voltam, sem dúvida, para Zaha Hadid: a primeira mulher na história a ganhar o Prêmio Pritzker em 2004 e a Medalha de Ouro do Royal Institute of British Architects em 2016. Hadid acreditava que a arquitetura deveria evocar prazer e um senso de maravilha. E o que poderia ser mais maravilhoso do que seus edifícios inesquecíveis? Caracterizados por estruturas curvas, linhas dinâmicas e formas expansivas: construções majestosas que oferecem uma releitura contemporânea da monumentalidade.
Entre os projetos do estúdio de Hadid – onde trabalham mais de 240 arquitetos – estão o MAXXI em Roma, o futurista London Aquatics Centre, o Vitra Fire Station em Weil am Rhein, na Alemanha, e a Ópera de Guangzhou, na China. Além disso, ela também criou uma coleção de sapatos, uma linha de joias e uma bolsa para grandes nomes da moda de luxo.
Já não estamos falando estritamente de arquitetura, mas de design industrial, e mesmo aqui – além do trabalho de Hadid – a contribuição feminina conta com nomes importantes, às vezes ainda pouco conhecidos.
Comecemos com Charlotte Perriand: francesa, colaborou extensivamente com Le Corbusier e Pierre Jeanneret (mas também com Fernand Léger, Jean Prouvé e Lucio Costa), assinando alguns dos objetos mais prestigiados da década de 1920. E Cini Boeri? Sua extraordinária versatilidade no design lhe rendeu o prêmio Compasso d’Oro em 1979 pelo sofá modular *Strips*, projetado para a Arflex. Um sucesso de design que aparece tanto nas coleções permanentes de museus como a Trienal de Milão e o MoMA em Nova York, quanto nas casas de celebridades da moda e do cinema, embora Boeri gostasse de enfatizar o caráter humilde, doméstico e prático de sua criação.
“Apresentam-se como peças de luxo ou prestígio no mobiliário, mas permanecem modestas e um pouco rústicas, macias e extremamente leves. Já as vi colocadas na casa de um colecionador, entre pinturas, desenhos e esculturas. Elas eram jogadas aleatoriamente, onde fossem necessárias. Enquanto, muitas vezes, nesses lares, os móveis competem com as obras de arte, elas, em sua absoluta modéstia, permanecem coisas, coisas para usar.”
— Cini Boeri